sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu não sou eu, nem sou o outro, sou qualquer coisa de intermédio pilar da ponte do tédio que vai de mim para o outro (Mario de Sá Carneiro)

Um dia depois de muitas tentativas e erros você se organiza, as pessoas te enxergam como alguém que agora vai com as próprias pernas; afinal, aquele impulso insano que dá um comichão de correr entre os carros em plena 23 de maio já não clama por suas pernas, e você pensa, finalmente o silêncio interior... Não há alaridos, agora sim, chegou para morar o momento silencioso da resolução...


Até que o mundo redondo te faz tropeçar no outro, bem disse Sartre 'o inferno são os outros' esse outro que se retoca e te espirra nanquim, esse outro, parte de você, que adormeceu há tanto, esse outro que te instiga, irrita, perturba enquanto se maquia para o grande teatro da vida.


Quanto mais leve ele é mais peso lança sobre seus dias, quanto mais ele faz malabares, mais você perde as forças nos braços, ele dá piruetas e você não consegue se levantar, ele sorri quando tem vontade de chorar e você é puro borrão de tinta branca, aquela que iguala os palhaços.


O que seria de nós sem o infernal outro? NADA


Pois é exatamente esse outro, que nos imprime humanidade, que faz as cores vibrarem com mais intensidade, nem que para tanto, tenhamos que sangrar. Tem gente que só se percebe vivo enquanto sangra; muitos são assim.


Compreender que o outro nos situa nos dá parâmetros é fundamental para sabermos quem somos, e se nos causam angustias, medos, dores, melhor ainda, pois são nossos espelhos, são os arquétipos com os quais ainda nos digladiamos, são nossas vozes mais profundas pedindo licença para passar...


Tais inquietudes vieram dizer que é muito cedo para entrarmos na fase contemplativa que o movimento da vida traz dores, dificuldades e percalços, e se não compreendemos isso, é sinal de que ainda não compreendemos quase nada e era tão frágil quanto um sonho de valsa nosso mundinho organizado e feliz.

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